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25 de abril de 2011

...a história dos nomes...

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"Fadário. Chamava-se assim. Fadário da Luz do Espírito Santo. Pode parecer-vos um nome pouco plausível. Talvez vocês acredi­tassem mais depressa na história que vos quero contar se o meu personagem se chamasse, por exemplo, José Carlos Antunes. Eu, contudo, acho José Carlos Antunes um nome muitíssimo mais estranho do que Fadário da Luz do Espírito Santo. Não com­preendo porque tantas pessoas baptizam os filhos com nomes cujo significado ignoram, ou sobre os quais nunca reflectiram, ou mesmo com nomes sem significado algum.
Chamo-me Plácido Domingo. Muitos riem-se sempre que me apresento:
Plácido Domingo?! Ah! Ah! Que engraçado.
Estendem-me a mão: António Barata. Joaquim Rato. Manuel Mosquito.
Barata? Rato? Mosquito? O senhor chama-se rato e ainda ri?!
Em Portugal há muito mais ratos do que leões. Conheço camelos, coelhos, aranhas, leitões, mas nunca tive o privilégio de ser apresentado a um tigre ou a uma águia. Baratas, esses, são aos milhares. Uma verdadeira praga. Ao mesmo tempo, multiplicam-se por todo o lado as associações insensatas de ape­lidos, sem que a maioria das vítimas se aperceba. Esta chama-se Maria do Rego Leal, aquele José Penetra Murcho. Pior ainda são os antropónimos que as pessoas inventam, mutilando outros já existentes, ou recortando e colando partes de vários. No Brasil, os favelados baptizam os filhos com os nomes dos ricos e dos poderosos: Kenedy dos Santos, Washington Cardoso, Superman da Silva.
Por fim, temos as jintanjáforas, palavras sem significado algum, escolhidas apenas pela sonoridade. Vale tudo. E são estas pessoas, com antropónimos e apelidos insensatos, que troçam dos índios norte-americanos e brasileiros, ou de alguns povos tradicionais africanos, que ainda acreditam na importância das palavras, na sua natureza mágica, e baptizam os filhos para os protegerem, de forma a assegurar-lhes um destino feliz, ou por­que através dos antropónimos que lhes dão pretendem recordar acontecimentos relevantes para a comunidade."
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Depois de ter lido estas duas páginas, a minha memória foi buscar uma alegre discussão surgida espontâneamente no decorrer de uma reunião em Campo Maior, depois de uma campomaiorense afirmar que os africanos tinham nomes muito estranhos: objectos de uso corrente. Sendo eu a única "bimba" (eram assim denominados os não alentejanos), perguntei a cada uma das pessoas presentes o apelido...
Aqui fica uma lista de apelidos que por lá encontrei:
Penetra Murcho, Boi, Bagina, Menino de Ouro, Badalo, Moedas, Sardinha Morcela, Louro Rosado, Barrigola, Paio, Restolho, Carrapato, Vacas, Leão Pernão, Ensina, Sena Mexe, Candeias, Lavadinho Pouca-Roupa, Mana Pepe, Ramalhete, Bicho, Favita Carixas, Caldeirão, Caramelo Patacas, Setoca Cidade, Moacho Boquinhas, Marmelito, Maria Tomatas, Aranha Canané, Ruivo Grãos-Duros,  Caraças, Nabeiro, Rato Toureiro, Labrego, Chouriço, Caga-Latas, Nora Cachola, Ramos Raminhas, Bolas Sande, Grilo Majarico, Marvanejo Corta Ventos, Policarpo da Cal, Gaita, Contradanças, Amante, Grelhas, Rato,...
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Quando tentei saber a origem dos apelidos mais insólitos (característicos do Alto Alentejo), constatei que há várias teorias; uma delas sugere que é fruto do isolamento existente entre os montes (propriedades alentejanas) e as vilas onde se faziam os registos de nascimento. Assim, aproveitava-se a ida do vizinho à vila para o incumbir de tão  especial favor. Ele registava a criança com o nome que o amigo lhe dissera, mas quando questionado sobre o apelido a dar-lhe, por desconhecimento, dava a alcunha por que era conhecido o pai da criança.

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