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26 de agosto de 2008

...Memorial do Convento...


Ontem terminei de ler mais este livro de Saramago e ocorre-me reafirmar o que, a propósito de Lanzarote, referi sobre a mão divina do Homem em terreno aparentemente estéril.

Neste livro há várias histórias entrelaçadas que evoluem à medida que as paredes do convento de Mafra se erguem. Umas passam-se na corte real e outras por entre o povo, onde surgem duas personagens ao nível das duas mais famosas de Shakespeare.
Todo o trama termina suspenso no destino de Blimunda e Baltasar Sete-Sóis e os três últimos capítulos são pequenos de mais tal é o turbilhão e o desconforto que em nós fica.
SS
" A antiga e larga manjedoura, que nos tempos da sua utilidade estivera fixada aos prumos da barraca, a altura conveniente, estava agora no chão, meio desconjuntada, mas confortável como um leito real, afofada de palha, com duas mantas velhas. Álvaro e Inês Antónia, sabiam que serventia tinham estas coisas, mas fingiam ignorá-lo. Nunca lhes deu o capricho de experimentar a novidade, são espíritos quietos e carnes desambiciosas, só Gabriel aqui virá ter encontros depois de mudadas estas vidas, tão perto isso já vem e ninguém o adivinha. Talvez alguém, talvez Blimunda, não por ter puxado Baltasar para a barraca, sempre foi mulher para dar o primeiro passo, para dizer a primeira palavra, para fazer o primeiro gesto, mas por uma ânsia que lhe aperta a garganta, pela violência com que abraça Baltasar, pela sofreguidão do beijo, pobres bocas, perdida está a frescura, perdidos alguns dentes, partidos outros, afinal o amor existe sobre todas as coisas."

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