As primeiras vezes que vim ao Porto de autocarro eram pelo menos 7 ou 8 horas de viagem. Na véspera preparavam-se as sandes e mentalizávamo-nos que tinha de ser: a chegada valia a pena a cumprir durante o trajeto. Na manhã seguinte, acordávamos, bem cedo, e tínhamos de tomar o pequeno-almoço, pois era impensável fazer tal viagem de estômago vazio; as curvas e contracurvas intermináveis do Marão eram um verdadeiro carrossel que punham à prova os estômagos mais indomáveis, como o meu, que recusavam alimento em horários tão desfasados. Pelo caminho, havia sempre alguém com uma mezinha contra o enjoo, a mim bastava-me o lugar da frente...
Nesta semana fiz esta viagem de autocarro (Bragança-Porto), demorei 3 horas com paragem em Macedo de Cavaleiros, Mirandela, Vila Real e Penafiel. Pelo caminho pude ler (e escrever este post), pois as curvas assim o permitem.
Em Macedo recuei no tempo... o autocarro pára, um senhor espreita e pergunta ao motorista:
- Vai pró Porto? (manda entrar uma adolescente)
Ela já é um bocado grande, mas entregue-se dela, por favor.
- Está alguém à espera no Porto?
- Sim.
Uma conversa tão curta entre gente que não se conhece e no entanto foi feita uma tão grande promessa e dado um não menor voto de confiança... ainda perdura a certeza de que há gente que desempenha o seu cargo com seriedade.
É reconfortante saber que apesar de tanta mudança tudo continua igual.
2 comentários:
Engraçado este episódio. A confiança depositada no motorista. E com certeza bem entregue. :) Beijinho e bom fim-de-semana!
Bom fim-de-semana, Joana!
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